Cobertura: An Evening with Joan Baez – Recife

Não fez muito sentido comentar as músicas do show de Joan Baez na ordem em foram apresentadas, até devido às suas próprias escolhas como intérprete durante o concerto na última sexta-feira (28), em Recife. O que vem à memória é um mosaico de momentos singulares, que tentarei registrar nessa resenha do show de um dos maiores ícones da música folk mundial.
Comecemos por Cálice, composição de Chico Buarque e Gilberto Gil, que foi cuidadosamente decorada por Baez, entregando um português bastante aceitável para uma estrangeira. Vale notar que a música já integrava o repertório de sua turnê latino-americana. Aqui no Brasil, a inclusão de Cálice soou como uma emocionante homenagem. A intérprete remodelou o refrão da música, além de excluir a última estrofe, (discutivelmente) a mais contundente. Se eu tivesse a oportunidade de fazer uma única pergunta para Joan Baez, seria sobre essa escolha intrigante.
”Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça”
Meu primeiro contato com Cálicefoi aos 14 anos, numa sala de aula, sendo a música parte de um seminário de história sobre a ditadura no Brasil. Para a vasta maioria das quase 700 pessoas presentes no Teatro Riomar naquele noite do dia 28 de março, o primeiro contato com a música veio em 1978, quando do lançamento do LP Chico Buarque. Esse contraste de gerações foi bastante evidente antes do início do show, quando todos já estavam acomodados. A faixa etária geral era superior aos 50, 60 anos. Um indicativo de que as inúmeras matérias na imprensa local sobre a importância de Joan Baez e do seu show não encantaram os jovens. É uma pena, pois esse repertório, apesar de fortes associações históricas, tem um frescor e qualidade estética admirável.
Outro ’hino’ sobre a ditatura, Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, ganhou um lugar especial como a primeira música do bis do concerto.  A execução em português foi ótima, novamente, mas dessa vez o refrão, de mensagem mais positiva, foi entoado fortemente pelo público. Gracias a la Vida, de Violeta Parra, foi escolhida para encerrar a primeira parte do show. Baez trocou a ordem das estrofes de propósito, tornando a música sua. Mostrou-se uma intérprete segura da canção que dá nome à sua atual turnê.
Just the way you are, composição de Dirk Powell, colega multi-instrumentista de palco, pode ser considerada a música mais romântica do repertório. Baez cantou em dueto com sua assistente geral, que surpreendeu pela qualidade de sua voz. É uma pena que Joan nunca tenha gravado a música em estúdio. Só é possível acessar essa música por registros de show no Youtube, além de são ser possível encontrar a letra da música na internet, uma pena.
Aos primeiros acordes de Diamonds and Rust, que surgiu sem anúncio, com uma iluminação escura no palco, muitas pessoas a reconheceram e festejaram antes mesmo que a letra começasse. Fico me perguntando se essa característica tão recifense se repete em outros lugares; às vezes essa reação soa engraçada, no sentido de ‘finalmente, aquela canção que eu amo, depois de tantas desconhecidas’. 
Pois bem, Diamonds na Rust ganhou um tom confessional e soturno, inclusive com atualização de versos-chave. Em oposição, temos a gravação de estúdio com ares quase épicos, um recado em forma de canção para Bob Dylan.
Lily of the West (Flora) e El preso numero nueve são músicas sobre crimes de amor, entoadas respectivamente na porção inicial e final do setlist, dando uma impressão de simetria muito sutil e elegante. A bem-humorada descrição em português da temática de Floraarrancou risadas da plateia.
Swing low, sweet chariot, que na versão de estúdio de décadas atrás evidenciava o alcance vocal soprano de Baez, perdeu um pouco da força quando apresentada no show. Caso semelhante ocorreu com House of the Rising Sun, tradicional música folk, gravada no seu primeiro LP, em 1960. Características essas que de forma alguma evitaram aplausos empolgados, mas que provavelmente poderiam ter sido uma ovação.
Amazing Grace, hino tradicional gospel, foi escolhida para ser a última canção do bis. A cantora ditava os versos rapidamente, para que, mesmo os não conhecessem a música pudessem se juntar ao coro. Foi lindo e catártico.
Farewell, Angelina,  It’s all over now, Baby Blue e Blowin’ in the Wind, todas composições de Bob Dylan, ganharam interpretações excepcionais, chamando até mais atenção do que se fossem cantadas pelo próprio Dylan. Deportees, antecedida por uma contextualização lida em português, fala sobre mexicanos deportados dos EUA que sofrem um acidente. A melancolia tornou conta dessa execução em particular.
Os versos de Cangaceiro seguidos pelos de Acorda, Maria Bonita botaram fogo na plateia. Joan Baez não pareceu de forma alguma ‘’fazer graça’’ com o público, mas sim, homenagear algumas de nossas músicas tradicionais que conseguiram superar a barreira da língua, algo raro para a língua portuguesa no universo musical hoje em dia, à parte de alguns hits isolados.
Imagine, outra música com versos rearranjados em termos de ordem, não pareceu ter tanto impacto, levando-se em conta que é uma música imensamente conhecida e regravada. Só valeu a homenagem ao contemporâneo e autor da música, John Lennon. A parte mais interessante da execução de Cornbread, foi o que veio logo depois. Joan Baez simplesmente tirou um dos músicos para dançar a parte instrumental no palco, de forma livre e leve, arrancando sorrisos e palmas da plateia.
God is God, música do seu álbum de estúdio mais recente, indicou que a artista não vive apenas do seu repertório antigo, e ainda continua criando músicas de qualidade ímpar. Joe Hill e La Llorona foram as músicas que menos chamaram atenção, tanto por qualidades de arranjo e melodia quanto por conteúdo das letras. Na cabeça dos fãs, algumas canções mais significativas devem ter passado pela cabeça para ficar no lugar dessas acima mencionadas (e outras, talvez), o que é muito natural considerando o vasto repertório da artista.

Durante a parte do bis, quando fãs se aproximaram do palco para tirar fotos e pedir autógrafos em LP’s, algo inusitado e especial aconteceu. A artista se sentou na beira do palco e abraçou um fã, que disse ter feito um grande sacrifício para poder vê-la. Joan Baez disse ainda, durante o show, que teve um ‘’spetacular time’’ no Brasil, e notícias na imprensa já antecipam um possível retorno da intérprete ao país em 2015.

Musa da folk music, Joan Baez volta ao Brasil com turnê que passa por 4 cidades, incluindo Recife

Em 1981, quando era vigente a ditadura militar no Brasil, foi proibido o show de uma cantora americana, tida como uma das musas da música folk mundial. 33 anos depois, com apoio da Lei Federal de Incentivo a Cultura, a Opus Promoções conseguiu trazer Joan Baez para uma série de cinco shows no Brasil. Recife teve o privilégio de ser a única capital do Nordeste a receber a turnê da cantora, que se apresentará por aqui no dia 28 de março.

O envolvimento de Joan Baez com Bob Dylan, tanto no nível afetivo como no profissional, é fato marcante em toda espécie de biografia da cantora que é apresentada na imprensa. Para além desse fato curioso, é notável a diversificada politização da artista, intimamente ligada a sua própria carreira musical. Direiros Civis para afro-descendentes e oposição à Guerra do Vietnã são alguns dos movimentos nos quais ela esteve envolvida no decorrer dos anos.
Em 55 anos de carreira, foram 8 álbums de ouro, 7 indicações ao Grammy, e um Lifetime Achievement Award em 2007, maior honra que a Recording Academy pode oferecer.
Confira uma apresentação ao vivo de uma de suas músicas mais conhecidas, Diamonds and Rust, naquele mesmo ano.
O que esperar do repertório de uma cantora que é bastante respeitada tanto como intérprete como compositora? Aqui está uma lista com a maior parte das músicas que Joan Baez apresentou em Porto Alegre em 19 de março desse ano, o primeiro show da turnê brasileira, que também passará por São Paulo e Rio de Janeiro. O setlist do show em Recife não deve ser muito diferente, que contará com músicas em inglês, espanhol e português, de diversas fases da carreira de Joan Baez.
God is God
Farewell Angelina
Lily of the West
La Llorona
Deportees
It´s All Over Now Baby Blue
O Cangaceiro
Acorda Maria Bonita
Just The Way You Are
Swing Lot, Sweet Chariot
Pra Não Dizer que Não Falei de Flores
House of the Rising Sun
Joe Hill
Give me Cornbread When I´m Hungry
Gracias a La Vida
Cálice
Imagine
Serviço:
An Evening with Joan Baez in Recife
Dia 28 de março
Sexta-feira, às 21h
Teatro RioMar – RioMar Shopping (Avenida República do Líbano,251 – L4)
*Fica no último andar do shopping, ao lado do Cinemark. Acesso por elevador e escada rolante.
Ingressos
Balcão Nobre                        Inteira R$ 180,00 Meia: R$ 90,00
Plateia Alta e Plateia Baixa  Inteira R$ 230,00 Meia R$ 115,00
Pontos de Venda
Loja Jornal do Commercio: RioMar Shopping ( segunda a sábado, das 9h às 22h, e domingo
das 12h às 21h) (Não é cobrada taxa de conveniência),
*Fica na alameda de serviços do shopping, no térreo, em frente à Cão Que Ri
Vendas online: www.ingressorapido.com.br(é cobrada taxa de conveniência).
Televendas: 4003-1212
Confirme sua presença na página de evento oficial do show: