[Cobertura] Sandy com a turnê ‘Nós, Voz, Eles’ no Teatro Guararapes

8dc1f0ee5f31d63871470b57c3e3d4c4

Existe uma tendência no mercado brasileiro, no segmento de turnês nacionais de shows, de não colocar tanta ênfase em músicas inéditas na escolha do repertório. Essa característica perpassa artistas de vários gêneros musicais. Na turnê ‘Caravanas’ de Chico Buarque, mesmo dispondo de um repertório de centenas de músicas, fez-se a opção de repetir músicas da turnê ‘Carioca’, e isso acabou tornando o show mais potente, pois remetia à época de governos anteriores e contemplava o futuro incerto. Paula Toller, egressa do grupo Kid Abelha, circulou recentemente com um show feito principalmente de hits, e o resultado é fascinante. O roteiro da turnê ‘Nós, Voz, Eles’, de Sandy, agrega o bem recebido setlist da turnê ‘Meu Canto’ a uma safra de novas parceiras documentadas numa série de vídeos publicadas na internet.

A estrutura do show contou com a presença de um telão para emular os duetos que compõem o ‘Nós Voz Eles’ e tinham sido divulgados até então (com artistas do selo Slap da Som Livre (do Grupo Globo, que contou com Sandy como apresentadora de reality show por dois anos) e da Universal Music (gravadora da artista) – eram esses artistas Maria Gadú, Anavitória, Tiago Iorc, entre outros.

A performance da nova música ‘Grito Mudo’ (com Mateus Asato) deu mais um indicativo que o talento da compositora Sandy só melhora. Uma corretíssima versão de ‘Me Espera’ serviu como catarse da noite. ‘Morada’, que foi trilha da novela ‘Em Família’, de Manoel Carlos, foi um feliz momento. Areia (com Lucas Lima) rendeu um momento de alta sinergia com o público.

O fã-clube da artista realizou uma singela homenagem durante o show, envolvendo elementos luminosos e a música ‘Encanto’, do repertório da dupla Sandy e Junior.

Escute o projeto ‘Nós Voz Eles’: https://open.spotify.com/album/7BPwhaHjhjWTwIopJY6FTK

Update: Em 2019, Sandy, juntamente com Junior, anunciaram a turnê ‘Nossa História, que passará por diversas cidades do país. A primeira data da turnê será em Recife, no Classic Hall, no dia 12 de Julho.

Domingo – Review

DOMINGO foto 3

There’s a lot going on with this family. These people are not fine. The matriarch is not happy with herself neither with both her sons life choices. She’s not fond of both her daughter’s-in-law. Her grandkids are on a brink of change. The oldest is preparing for a debutante ball, a traditional event in Brazil that marks the sexual maturity of a young woman. She’s not as into this party as her grandmother. One of the grandsons is also a teenager, a horny one with lots of class and male entitlement who wants to get on as soon as possible. The youngest grandchild is a kid facing identity and gender expectations, barely the start of it. His father says it’s to dress up in women’s clothes and wearing make up. It’s a heartbreaking scene, a well-directed one. (Transgender theme in vogue, check) This is a film build on stand alone scenes. The only action in progress is basically sex about to happen. At least five different couple combinations, with a hot tennis instructor (Chay Suede) and a liberated woman with lots of joy (Camila Morgado) doubling their score.

The year is 2003, the country has just elected an unpredictable man: the real life Luis Inacio Lula da Silva (sentenced and arrested in 2018 on corruption charges). He’s on TV making a historic speech, promising changes in the very fabric of Brazilian segregated society.

But this is a traditional family, as far as a Brazilian sense of that word goes. Things are only supposed to change in a known direction. Marriage, career success. Turns out there’s some cheating going on, trying to fill an unhappiness with reasons not fully clear. The final stage of a pregnancy has not been pleasant at all, on another side. There’s a secret sex tape found by two teenage male friends. It’s not clear what’s so wrong with it.

The house maid won’t put up with unfair treatment by her boss. Neither will her daughter cave to the sexual advances coming from one of the men in the house, in a position of power (#Metoo theme in vogue, check) A tennis teacher won’t comply with the extra demands of Morgado’s character. The subordinates, the working class, are on a brink of change, too. They had enough, now that a former working class president has been elected. Just like that.

Adriana Calcanhotto @ Teatro Riomar Recife – Turnê ‘A Mulher do Pau Brasil’

_MG_8039 copy

(Por Marco Vieira, editor do Cultura Revista)

Com um repertório organicamente politizado, que integra músicas de décadas atrás que reverberam perfeitamente no presente, Adriana Calcanhotto mostrou um pouco do Brasil para um recorte de classe média que pouco conhece a cultura brasileira. Numa noite de domingo, no Teatro Riomar Recife, em pleno segundo turno com um sombrio resultado prestes a se concretizar, a cantora e compositora abriu mão de mostrar as músicas que compôs recentemente, a saber: Não Demora, Era Pra Ser, Livre do Amor, Tanto, Suzana. A turnê anterior, ‘Olhos de Onda’, com apenas três (fracas) inéditas, pedia a renovação do repertório em 2018, depois de um hiato de 5 anos.

O show teve sutis e excepcionais momentos, como a performance de ‘O Cu do Mundo‘, que fala de ‘linchadores’, o que remete às dezenas de ataques que aconteceram na semana pós-primeiro turno, majoritariamente perpetrados por simpatizantes do candidato que ficou em primeiro lugar no primeiro turno. Ao fim da música, os gritos de #EleNão fraquejaram – nem pareceu a palavra de ordem de um movimento de repercussão internacional. Enquanto que ‘As Caravanas’ (composta por Chico Buarque) escancara o racismo à brasileira, ‘Juízo Final’ (de Nelson Cavaquinho) sinaliza alguma esperança após tanta desgraça. Uma música de João Bosco sintetizou, para certo constrangimento dos presentes, que ”estamos fudidos, enfim”. ‘Noite de São João’ embalou o público com uma melodia fascinante, sobre versos de Alberto Caeiro.

image

Os novos arranjos de ‘Vambora‘ e ‘Inverno’ não convenceram. ‘Esquadros’ e ‘Maresia’ soaram como uma concessão, sem imaginação, à execução de hits para fazer com que o público leigo em Adriana Calcanhotto sentisse que o show valeu o ingresso – e deu certo, as pessoas cantaram com gosto. Faltou algo em ‘Devolva-me‘, o maior coro da noite, um fascinante caso de um cover stripped que é, até hoje, o maior hit da carreira da artista. Por outro lado, Calcanhotto exibiu talento na percussão ao final de ‘A Dor tem Algo Vazio’, em que favoreceu expressividade dramática em detrimento de ritmo, com efeito singular, que remetia a pontadas de dor. Indicou, também, que tem condições de herdar o repertório romântico de Roberto Carlos (Outra Vez, o coro mais bonito da noite) e a porção mais cerebral e áspera das músicas de Caetano Veloso, com tranquilidade.

Nasce Uma Estrela [Crítica c/spoilers]

astarisborn
Um dos filmes de fato modernos a serem lançados em 2018, o musical ‘Nasce Uma Estrela’ explora temas como masculinidade tóxica, vício em drogas, feminismo e feminilidade, auto-superação, fracasso e auto-estima, além de como a influência dos pais pesa no rumo da vida das pessoas. Duas atuações poderosas são o centro de gravidade do filme: Lady Gaga (Ally) demonstra, enquanto atriz de cinema, um minimalismo diferente da persona midiática que a levou ao estrelato na sua carreira de artista de música pop na vida real, e materializa, neste filme, uma personagem de alcance dramático e vocal fabulosos – Bradley Cooper, em sua estreia na direção, compõe um decadente e atormentado músico veterano que incentiva uma mulher insegura (Ally) a perseguir seus sonhos e abraçar o próprio talento – até que as coisas se complicam e desmoronam.

Palavras não são suficientes para descrever a potência dos números musicais na tela gigante, especialmente ”Shallow” (lançada como single de divulgação do filme, não por acaso), ‘Always Remember Us This Way (escrita apenas por mulheres) e ”I Will Never Love Again’ (na magistral cena de desfecho). Chama a atenção também a montagem do filme, com uso ousado de elipses, onde nenhuma cena parece durar além do necessário pra comunicar seu sentido. O direcionamento da interpretação é hiper-realista e surpreende pela ausência de overacting: olhares e silêncios e atitudes introspectivas sobressaem. A fotografia prioriza a nuance emocional de cada personagem, e vale destacar que os personagens coadjuvantes (o pai de Ally, o irmão de Jackson (Cooper), e o empresário de Ally) se integram muito bem com o drama dos protagonistas, e apresentam suas próprias contradições. Uma falha que não passa despercebida é a da performance de La Vie en Rose (onde falta refinamento à pronúncia do francês, não sei se proposital) além de um grupo de músicas que parecem sobras de um material anterior que Lady Gaga, a cantora pop, começou a mostrar com ‘The Cure”, anos atrás.

O filme não só equivale a um novo álbum de Lady Gaga, como também pode gerar uma reflexão interessante para mulheres e seus boys lixo. Lágrimas e risos também fazem parte das possibilidades da sessão.