Confira informações sobre áreas para PCDs no show de Madonna no Rio

(Com informações da assessoria)

No dia do show da cantora Madonna na Praia de Copacabana, 04 de maio, estarão disponíveis duas áreas exclusivas para pessoas com deficiências (PCDs) e/ou com mobilidade reduzida. A primeira área terá 48 metros quadrados em plataforma elevada, localizada próxima ao palco e em frente do hotel Copacabana Palace. A segunda plataforma terá 96 metros quadrados e ficará ao longo da avenida, próxima da rua Rua Duvivier.

O horário de abertura das plataformas será a partir de 12h (meio-dia) e o acesso por ordem de chegada, sujeito a disponibilidade de espaço. Será permitido apenas 1 acompanhante por pessoa com deficiência. Por motivos de segurança, não serão disponibilizadas cadeiras para os acompanhantes.

Para as pessoas com deficiência não visíveis, é importante apresentar laudo médico válido, para validação da equipe no local. O acesso a plataforma elevada é preferencial para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, que apresente dificuldade de estatura, como usuários de cadeira de rodas e pessoas com nanismo.

Em ambas as áreas haverá profissional de segurança e banheiro acessível. O espaço funcionará até o fim do show.

Sem Coração [Crítica]

Encantador filme sobre jovens, dirigido por Nara Normande e Tião, chega aos cinemas brasileiros em 18 de abril de 2024

Um dos maiores desafios do subgênero cinematográfico coming of age, que tem diversas referências aclamadas e enraizadas na cultura, é trazer frescor a caminhos narrativos e estéticos em relação ao que já foi feito antes, e muito bem realizado. O filme ‘Sem Coração’ revela-se uma gratificante experiēncia de fruição, com personagens cativantes, bem caracterizados, que levam o espectador a torcer por elas e por eles. Às vezes você não se dá conta do quanto que representatividade de qualidade fazia falta até conseguir se enxergar na tela de cinema. E indo além, essa história oferece a oportunidade de um exercício de alteridade capaz de enternecer pela sua delicadeza e coragem, especialmente na abordagem de nuances e aspectos ainda tabus ou pouco retratados. Também uma obra de ambiência e atmosfera bem desenvolvidas e resolvidas, não faltam floreios e uso excepcional de trilha sonora, que só contribuem para expandir os sentidos das cenas e agregar beleza e singularidade. Momentos memoráveis tem alta chance de permanecer com o espectador após a sessão. Em tempos de retorno de cota de tela para o cinema nacional, creio que é justamente esse tipo de filme que deveria ser potencializado no sentido de chegar ao maior número possível de pessoas.

(Crédito das imagens: Cinemascópio)

Confira a trilha sonora do filme na playlist do Spotify compilada pelo Cultura Revista:

(Filme visto na abertura do Janela Internacional de Cinema do Recife, em 2023. Texto escrito por Marco Vieira, editor do Cultura Revista – culturarevistareportagem@gmail.com)

A Pequena Sereia (2023) [Crítica]

Crédito: Disney

(por Marco Antônio Vieira, editor do Cultura Revista – culturarevistareportagem@gmail.com)

É possível afirmar, à essa altura do ciclo de realização de filmes live action a partir de clássicos de animação da Disney, que o equilíbrio entre a atualização e a reiteração é um norte desejável. Explico melhor: as novas sensibilidades e questões da contemporaneidade demandam alterações para que o filme possa conversar com novas audiências. Isso, aliado a exploração de signos do universo Disney, que integrou parte relevante da infância de várias gerações. Semelhanças, por exemplo, com elementos estético-narrativos de ‘O Rei Leão’ (1994) e ‘A Bela Adormecida’ (1954) ajudam a cativar um público já conquistado, também, por um repertório musical que ressurge revigorado, no caso de ‘A Pequena Sereia’ (2023) especialmente, pela voz e presença da cantora e atriz Halle Bailey. Aqui está uma combinação da familiaridade com relativa inovação, exitosa em diversos aspectos.

Será interessante observar o tanto de conexão que essa nova Ariel vai gerar junto ao público. No meu caso, fui capturado logo na primeira música do filme, a clássica ‘Part of Your World’, um solo ancorado em perfomance vocal e olhar esperançoso, numa execução renovada. A letra é tão boa, a melodia tão potente ao carregar uma narrativa universal de ‘querer mais’ e ‘não conformidade’, que não se fazem necessários tantos elementos visuais: nesta cena, menos é mais. A reprise de ‘Part of Your World’ é nada menos que incrível, contando com uma produção fonográfica excepcional — uma progressão melódica assombrosa, de arrepiar. Nesse filme musical, números grandiosos em escala, numa explosão de cores, texturas e luminescências, como ‘Out of the Sea’, ‘Poor Unfortunate Souls’ e ‘Kiss the Girl’, terão espaço para entreter no decorrer da projeção, se valendo de outros recursos. A caracterização é um deleite para ouvidos anglófilos, com vários sotaques do inglês coexistindo no mesmo lugar, contribuindo para singularizar personagens, uma cararacterística típica da Disney. Um elenco de apoio fabuloso marca presença, liderado por Daveed Diggs (que dubla o carangueijo ‘instruído’ ultra requisitado Sebastian), Awkwafina (que dubla a gaivota Scuttle, cheia de personalidade, que rouba todas as cenas em que passa), e, é claro, a surpreedente Melissa McCarthy (que interpreta a carismática vilã Úrsula).

Menos impressionante é o peixe Linguado/Flounder (dublado por Jacob Tremblay), que basicamente faz pontas durante a história, nunca deslanchando enquanto o personagem que seria o melhor amigo de Ariel. Dentre as três novas músicas compostas pro novo filme, apenas ‘The Scuttlebutt’ me agradou pra valer. Ademais, a química entre Jonah Hauer-King (que interpreta o Príncipe Eric) e Halle Bailey (Ariel) é inegável. Os fatores que fazem um se atrair pelo outro partem principalmente da identificação enquanto almas inquietas inconformadas com destinos pré-estabelecidos pela família, além da vontade em comum de explorar o mundo. Pra além da atração física, existe a cumplicidade, o senso de aventura — é super importante pontuar isso. O olhar queer do diretor Rob Marshall certamente agrega tons suaves de sensualidade a representação de Eric, isso alinhado com um bom desenvolvimento de personagem, que se mostra um homem corajoso sem receio de demonstrar vulnerabilidade.

Crédito: Disney

O roteiro de David Magee junto com a montagem de Wyatt Smith oferecem uma narrativa dinâmica, que nunca entedia ao ultrapassar duas horas. O terceiro ato é executado com maestria (a tensão aumenta, muito está em jogo, há virada de enredo e a resolução vem breve e certeira, numa medida bastante razoável). A mensagem mais destacada no filme, que envolve a relação de Ariel com seu pai, o Rei Tritão (Javier Bardem), fica mais evidente na cena final, sendo uma grata surpresa, com chances de reverberar bastante no emocional e levar às lágrimas.

O universo Disney mostra-se recompensador, e o legado que o estúdio deixa para crianças, jovens e adultos permanece engajador. Histórias clássicas continuarão sendo reinventadas e refeitas, no cinema como um todo. O debate sobre esse ou aquele filme ter razão de ser enquanto remake continua em aberto. ‘A Pequena Sereia’ (2023) é um acerto.

Björk e Orquestra de Cordas Bachiana Filarmônica @ Primavera Sound SP 2022

Por Marco Vieira, editor do Cultura Revista – culturarevistareportagem@gmail.com

Crédito das fotos: Santiago Felipe

Provavelmente o show mais aguardado dessa primeira edição do Primavera Sound SP, a apresentação da cantora islandesa Björk reuniu músicas de diversos álbuns da sua carreira, em arranjos com acompanhamento da (brasileira Orquestra de Cordas Bachiana Filarmônica. O concerto iniciou pontualmente, num ambiente sunset, com ‘Stonemilker’, do álbum Vulnicura (2015). Os versos da música foram entoados pelo público na íntegra, e a energia parece ter dobrado assim que os telões foram ligados, minutos após o início. As palavras do refrão merecem destaque:

‘Show me emotional respect, oh respect, oh respect
And I have emotional needs, oh needs, oh ooh
I wish to synchronize our feelings, our feelings, oh ooh’

Fosse a homenagem à natureza em ‘Aurora’, ou o amor acolhedor de ‘Come to Me’, ou ainda, a reflexão sobre a crise de um relacionamento em ‘Lionsong’, essas canções ilustravam as nuances dos vocais de Bjork, sua presença de palco inquestionável, e além disso, havia interações espontâneas por parte do público, por causa de um simples ‘obrigado’ ou devido ao gestual da artista. A cantora islandesa comandava o público sem fazer esforço algum, e sua presença era uma força magnética que despertava paixões e admiração.

Seguindo pelo setlist, tivemos ‘I’ve Seen it all’, espécie de música-tema do filme ‘Dancer in the Dark’ (Dançando do Escuro), que mostrou as habilidades extraordinárias de Björk enquanto atriz. O tom sombrio e melancólico não abalou o astral de um show que seguia irretocável, com a orquestra de cordas exibindo sua virtuosidade o tempo todo, casando perfeitamente com a voz da artista.

A complexidade de sentimentos em ‘Jóga’ teve brilho e caracterização especial. ‘This state of emergency /
How beautiful to be / State of emergency
Is where I want to be’. Já o hit ‘Hyper-ballad’ reuniu tudo que o repertório tinha de melhor: energia, progressão melódica e um refrão cheio de vulnerabilidade: ‘I go through all this / Before you wake up / So I can feel happier / To be safe up here with you’.

O público que estava no Anhembi em São Paulo pode testemunhar, ainda, a performance de ‘Ovule’, música do mais recente álbum ‘Fossora’. Sob metáforas complexas, a compositora discute o ideal do amor. Björk trouxe, ainda, a apresentação de ‘Notget’, uma potente reflexão sobre o fim de um relacionamento, um forte exercício de alteridade em ‘Quicksand’, e a multiplicidade de sentidos em ‘Hunter’. Uma das mais antigas músicas do setlist, ‘Isobel'(1995) foi recebida com muito carinho pelo público do Primavera Sound São Paulo.

O show encerrou com a transmutadora ‘Pluto’, que teve forte interação do público, mostrando que até uma track menos conhecida dentre as músicas do vasto repertório tinha potencial de incorporar a energia de um hit. Björk demonstrou muita gratidão e satisfação, e chegou a elogiar o público, presencialmente e pelo instagram, por ter ‘cantado cada palavra de cada música’, caracterizando os brasileiros como ‘maravilhosos apreciadores de música’. Ela mostrou porque tem uma carreira solo tão longeva, e tão aclamada pela crítica e pelo público alternativo. Um show pra ficar marcado na memória dos palcos brasileiros.

Aos Nossos Filhos, de Maria de Medeiros [Crítica]

Crédito: Divulgação

Filme caracterizado por sutilezas trata de questões da maternidade e das consequencias do silêncio, desafiando os pressuposições do espectador com frequencia.
Sem entregar muito do enredo, posso afirmar que há elementos de suspense e drama executados com maestria, e o filme passa longe do clichê da obra sobre famílias disfuncionais. São personagens muito verossímeis, com contradições inesperadas, assim como as pessoas costumam ser. Marieta Severo está excelente em um dos papéis principais. Ela entrega uma vulnerabilidade notável e comove, baseada em suas habilidades como atriz experiente, amparada por um bom roteiro que desenvolve bem seus personagens e enredo.
E falando no roteiro, as reviravoltas são instigantes. O espectador pensa que adivinhou o filme, mas aí é tomado de surpresa. Na encenação, não há espaço para pudores. Seja pela nudez mostrada com naturalidade, seja por momentos antidramáticos e também por beijos apaixonados.
A belíssima trilha sonora é outro aspecto excepcional do filme, com escolhas muito boas que casam perfeitamente com o tom estabelecido pela narrativa. O filme não se intimida em abordar o contexto histórico em sentido amplo, com força dramática extraordinária e singular, em relação a outras abordagens das mesmas temáticas. Planos em que nada é dito verbalmente, porém densos em discurso cinematográfico, agregam um toque especial. Uma história muito particular que fala sobre temas pertinentes de interesse universal. Enfim, um daqueles filmes capazes de fazer o espectador ampliar horizontes, ao mesmo tempo que passa um tempo de qualidade. Palmas para a generosidade de Laura Castro (atriz, roteiro) e Maria de Medeiros (roteiro, direção) em concretizar esse filme, contanto uma história capaz de atingir as mais diversas audiências mundo afora.

Crédito: Divulgação

Simone no 30º Festival de Inverno de Garanhuns [Cobertura]

Simone apresentou uma parte do seu novo disco em show no 30º Festival de Inverno de Garanhuns, em Pernambuco. Com três participações marcantes de cantoras-compositoras (Rogéria Dera, Isabela Moraes e Joana Terra, todas pelas quais demonstrou muita admiração) que estão presentes no álbum ‘Da Gente’, o show foi cheio de pontos altos, apesar de algumas problemáticas, como a repetição excessiva de estrofes de algumas músicas e o total não-reconhecimento do coro político que se formava em alguns momentos (uma nova música era logo iniciada). Do lado positivo, grandes sucessos e pérolas se somaram ao repertório do novo álbum, que podia ter tido mais músicas apresentadas, a bem da verdade. Considerando o tempo disponível, cabiam pelo menos mais 3 músicas do disco novo, que por sinal é excelente e sucesso de crítica. ‘Amor Brando’, da lavra de Karina Buhr, por exemplo, fez muita falta. Do lado das pérolas, as versões de ‘Bandeira do Divino’ (Ivan Lins, compositor com extensa parceria artística com Simone) e ‘Pingos de Amor’ (Paulo Diniz), salvo engano nunca gravadas pela intérprete, foram gratas surpresas na sua passagem pelo festival.

Os hits eram principalmente dos anos 70, 80 e 90, algo sobrenatural conseguir estar em forte evidência por tanto tempo. Por exemplo, Simone gravou Iolanda (composição de Pablo Milanés, versão em português de Chico Buarque) com enorme sucesso, sendo a sua versão a mais conhecida no Brasil. A sensualidade atravessou a temática de músicas como ‘Tô que Tô’, ‘Escancarada’ e ‘Boca em Brasa’. Sobre a última mencionada, Simone anunciou, satisfeita, que está que é uma composição de Zélia Duncan faria parte da trilha sonora de uma novela em breve. Vale notar que entre tantas composições brilhantes, de temática semelhante, em ‘Da Gente’, foi a música de Duncan (que integra atualmente o casting da Universal Music) que teve a canção escolhida. Claro que outros fatores devem ter entrado em jogo, mas a força do lobby corporativo não deve ser subestimada. E falando em novelas, ‘Encontros e Despedidas’ (1981), que foi abertura de ‘Senhora do Destino’ (2005), teve sua versão-Simonesca recuperada em outro ponto alto do show. A efeito de curiosidade, as músicas ‘Cigarra’ e ‘Tô que Tô’, que foram recebidas pelo público com muito carinho , também integraram trilhas de novelas no passado. Simone exibiu domínio de palco, alicerçada na sua experiência de décadas. Parecia bastante à vontade e feliz, nesse que foi seu primeiro show com público desde 2019. Fez questão de creditar todos os integrantes de sua banda (duas vezes) e agradecer nominalmente e afetuosamente a diversas pessoas da equipe técnica. Entregou rosas ao final do show para os fãs próximos ao palco, ao som de ‘O Amanhã’, uma música que poderia ter ganhado contornos políticos mais nítidos, mas soou… estranha. Diz a letra “Como será amanhã / Responda quem puder / O que irá me acontecer / O meu destino será como Deus quiser”. Muito mais incisiva e sofisticada foi a segunda música da noite, ‘Haja Terapia’, do pernambucano Juliano Holanda, que a acompanhou na banda e foi o responsável pela direção do show. Uma performance, enfim, com muita troca de energia e representatividade de minorias políticas.

Confira o setlist completo, em forma de playlist no Spotify, do show que Simone apresentou no dia 22 de julho 2022, no trigésimo Festival de Inverno de Garanhuns.

A Rainha Diaba [Crítica]

Por Marco Antonio Vieira, editor do Cultura Revista

Rediscutir a relação e os relacionamentos. Conspirações, armações e contra-conspirações. O que é imposto aos que estão abaixo na hierarquia estabelecida por elementos de poder. Aspiração a ter mais. Enganos. Ser mulher. ‘A Rainha Diaba’ é um filme riquíssimo em temáticas e representações. Reflete os anos 70 do Brasil de maneira ousada e assertiva. Não é uma experiência para os pouco dispostos. A violência coexiste com a potência da trilha sonora de amplo espectro e da direção de arte hipercriativa. Cada plano bonito que esse filme tem. Valoriza o talento dos atores e atrizes protagonistas e do elenco de apoio, tudo se movendo de modo bastante orgânico. E parece effortless. O mundo queer não precisa de muito enfeite. Já maravilha com pouco, vibra cheio de vida diante de tantos interditos. O choque do mundo dos homens com o mundo das bichas e o mundo das mulheres provoca bastante reflexão. Temos aqui um filme sério, que trata de corrupção e de sonhos, com momentos de suposto humor que dizem mais sobre quem ri do que o que está em cena. Enfim, uma das grandes joias do cinema brasileiro, que agora reluz numa cópia restaurada digna da preciosidade que constitui e instiga.

Visto na edição especial 2022 do Janela Internacional de Cinema do Recife, no Cineteatro do Parque, em julho de 2022.

Os Primeiros Soldados, de Rodrigo de Oliveira [Crítica]

Para aqueles que saudaram uma série como Heartstoppers, fica a questão de recusa da memória e do processo histórico em troca de um entretenimento feel good que não faz refletir, é apenas escapismo, e tem o caráter de inspiração bem duvidoso.

Dito isso, estreia o filme ‘Os Primeiros Soldados’, que sem sombra de dúvida merece pertencer ao cânone do cinema queer mundial, uma seleção luxuosa de tanto talento. Temos nesse novo filme um dos melhores castings do cinema brasileiro dos últimos anos, considerando protagonistas e coadjuvantes. Merece destaque, é claro, o national treasure Renana Carvalho, com sua presença cênica avassaladora e dicção indescritível. Johnny Massaro só cresce enquanto ator, com um alcance cada vez mais notável.

Um roteiro, um texto, interpretado pelos atores de um modo, eu diria, semi-teatral. É incisivo, é econômico, com um sotaque distante do Rio, de SP, do nordeste. O filme se passa no Espírito Santo, e isso só contribui para o tom e uma linguagem que soam renovadas. A cena dos fogos de artifício e da apresentação musical são bem representativas desse ponto. Esse é um pedacinho do Brasil pouco destacado, e uma parte significativa da história LGBTQAI+ que jamais ficará saturada de abordagens. Muitas pessoas e grupos tem o direito de contar essa histórias, à seu modo, com suas ênfases e reflexões particulares e muito próprias. Um diferencial importante desse filme são as escolhas dos personagens, em meio a cenas agridoces, tristes, leves e efêmeras, ou com forte erotismo.

O ruído do telefone colocado de volta no gancho. Ou tocando. A acústica de um recado do gravador. Cartas sendo abertas. Até a mesmo a captação do som do filme e sua mixagem remete a uma época anterior. Claro que é excepcional a trilha sonora incidental de Giovani Cidreira e as músicas escolhidas para agregar emoção e subtons a um filme que já parecia muito completo e redondo, com as arestas necessárias (me perdoem o paradoxo). Trata-se de um filme capaz de comover o espectador em diversos níveis, e sem dúvida seu tema central é a esperança. Cenas de beijos brilhantemente encenadas sugerem uma nåo-assimilação elogiável. Uma obra finíssima em seus planos-síntese, que chegam sutis e incidem com uma luz especial de um dia especial. A dificuldade, o sacrifício e as conquistas políticas podem ser muito inspiradoras. Basta disposição para enxergar.