(Após a cabine de imprensa do filme Causa e Efeito, em cartaz nos cinemas, o diretor e o ator principal participaram de um bate-papo com jornalistas. Aqui está o registro)
Marco Vieira – Eu achei o filme bastante contundente, e de personalidade, e me surpreendi muito. Eu queria saber se você (André Marouço, diretor) acha que o filme ajuda a desmistificar o espiritismo enquanto doutrina, tanto pro público que não está familiarizado quanto com que ainda tem preconceito, num momento que a gente vive a ascensão de uma parcela dos evangélicos que ‘não se bate’ de jeito nenhum com a doutrina espírita.
André Marouço – É, nós percebemos que ainda há pouca informação e muito preconceito em relação ao que é espiritismo. E o cinema, acho que é uma ótima forma de apresentar a nossa doutrina. Em absoluto, não é nosso interesse dizer que ela é maior ou melhor do que outra doutrina. Acredito que na Terra existe um número enorme de doutrinas religiosas e filosóficas, cujo lema maior é o amor. Então eu acho que a gente deve se afixar no amor. Vocês perceberam que a peça, embora uma peça espírita, os três ‘’mocinhos’’ dela são um padre, um pastor e um espírita. Nosso objetivo era mostrar que aquilo que deve unir os religiosos precisa ser muito maior do que as suas crendices, do que aquilo que eventualmente os separaria, que é o amor, que é a proposta de iluminação do ser humano.
Marco Vieira – O sincretismo brasileiro…
André Marouço – O sincretismo brasileiro. Nós estamos num país que é um caldeirão de cultura e espiritualidade. Aqui, graças a Deus, é um dos poucos países do mundo onde o muçulmano pode ser vizinho do judeu, o protestante pode ser amigo do católico, o espírita é amigo de todos, todos são amigos de todos, e é isso que importa, e na medida que a gente apresenta a doutrina na tríade que ela se apoia, que é a ciência, filosofia e religião, acho que a gente diminui o preconceito, e as pessoas verão, que é muito mais uma doutrina de busca, de estudo, de iluminação individual, do que querer que o outro faça como a gente acredita que deve ser feito. Então, nós entendemos que os evangélicos fazem um trabalho incrível, os católicos fazem um trabalho incrível, todas as religiões fazem um trabalho lindo, e o espiritismo também tem seu trabalho, especialmente no campo assistencial. E o cinema é uma ótima forma da gente apresentar a nossa visão de construção de um mundo melhor.
Marco Vieira – Matheus, como foi a sua preparação para o papel, em linhas gerais, eu sei que é um trabalho que envolve muitos detalhes.
Matheus Prestes (ator protagonista) – Na verdade, eu me encontrei com o André (diretor), e a gente desenvolveu um pouco o passado do Paulo, de onde que ele conheceu a Carolina (esposa), como é que foi esse encontro, o que ela significava pra ele. E a gente fez alguns exercícios, com um laboratório, batendo um papo para começar criar, para dar corpo, dar um pouco de estofo pra esse personagem. E muito também, a cada leitura você vai conseguindo ver alguma coisa diferente que você não tinha visto nesse bate-papo. E através também da própria gravação, do próprio trabalho em si, com a relação minha com os outros atores, com a Madalena e com a Carolina. Na verdade foi simples assim, porque ele (o personagem) apareceu mais a gente fazendo do que antes. Antes a gente conversou muito sobre ele para descobrir quem era o Paulo, mas acho o dia a dia que vai te trazendo na pele mesmo.
Marco Vieira – Me parece que funcionou muito bem assim, você é convincente no papel.
Joana Aquino (assessora de imprensa) – Como é fazer assim um personagem que tem tanta mensagem?
Matheus Prestes – O legal assim do Paulo é que é muito humano e pode acontecer com qualquer um, num grau menor, maior eu não digo, o que aconteceu com ele é muito trágico, até onde ele foi em vias de fato. Você pode ser fechado no trânsito, e desenvolver uma raiva por aquilo, tem pessoas que ficam loucas e possessas por uma fechada no trânsito, você pode ser injustiçado pelo governo, ser mal tratado ou roubado, você desenvolve aquele sentimento de raiva. Aconteceu isso comigo, de eu ter sido assaltado, de ‘nossa quero pegar o cara’, ao mesmo isso é um movimento, uma válvula de escape, um catalisador pra eu não precisar fazer isso. O Paulo acabou criando uma estrutura, e ficou preso em função do ódio que ele sentia. Acho que fazer, primeiro que eu trabalho em mim isso né, é muito interessante, sentir essa raiva e conseguir identificar que é muito mais na minha vida que eu senti isso. Eu acredito muito na evolução do ser humano. Então eu acho que foi muito bom fazer e tenho certeza que as pessoas vão se identificar com esse sentimento de raiva que é uma corrente na sua canela, pra te arrastar e te prender na vida. E esse desapego também, eu sei que não é fácil, tenta transformar esse sentimento que seja de qualquer âmbito negativo, inveja… e transformar isso em algo positivo.
Joana Aquino – O elenco é bem a estrela do filme. Acho que está bem preparado o elenco.
André Marouço – Acho que foi muito feliz. Acho que a precisa ressaltar o trabalho da Rosângela, minha esposa, por acaso. E ela conseguiu garimpar alguns amigos que fizeram um trabalho bem bacana mesmo.
(…)
Marco Vieira – Qual foi o orçamento do filme?
André Marouço – Nós temos um orçamento aprovado pela Ancine de 1,6 milhão. Eu acredito que é preciso ressaltar a entrega da equipe. Nós conseguimos fazer muito mais que um ambiente de trabalho, um ambiente de fraternidade. Então o que nós percebemos, é que todos que ali estavam, embora 90% das pessoas não são espíritas, nunca entraram numa casa espírita, mas encontraram um ambiente de trabalho fraterno, perceberam que era uma obra que tinha algo mais pra levar pra sociedade, uma mensagem de paz de amor, todos foram contagiados com isso, a entrega foi muito maior de todos.