Crítica: O Lobo atrás da Porta, de Fernando Coimbra

O filme fez parte da seleção oficial do Festival de Toronto, no Canadá e venceu o prêmio de melhor filme no Festival de San Sebástian, na Espanha. Empatado com outro filme, venceu o Festival do Rio 2013.
É ambientado num subúrbio carioca, de paisagem bastante horizontal, e com muitos tons acinzentados, próximo a uma estação de metrô. Na trama, para o desespero de seus pais Bernardo (Milhem Cortaz) e Sylvia (Fabíula Nascimento), uma criança de 6 anos é sequestrada. Logo surge a primeira suspeita, Rosa (Leandra Leal), amante exposta de Bernardo, que é interrogada e pressionada pelo delegado (Juliano Cazarré) a contar toda a verdade.
Há diversos filmes que tratam de casos extra-conjugais, que constituem uma espécie de subgênero cinematográfico. São muitos caminhos óbvios a se seguir; Coimbra, porém, evita muitos clichês. O que gera o primeiro conflito mais grave do filme é o contato de Rosa com Sylvia (agora duplamente enganada), da qual se torna amiga, sem que a última saiba do envolvimento da moça com seu marido.
A opção de contar a história por meio de flashbacks baseados em depoimentos é interessante, pois a versão contada para o delegado não é necessariamente verdade, o que leva o espectador a desconfiar do que está assistindo. A partir de um momento, a regressão se torna bem mais extensa, e aquele ‘’vai e volta’’ entre duas linhas temporais, que seria a escolha mais óbvia, é abandonado. 
Bernardo é o típico marido que nunca vai deixar a esposa. Curiosamente isso demora para virar uma questão para a amante.  É difícil simpatizar com esses dois personagens adúlteros, que tomam a maior parte do tempo em cena, sem que nenhum conflito fora-do-comum apareça. As cenas de teor sexual são calculadas e extremamente convincentes. É evidente a entrega de Leandra Leal às exigências do papel, como de costume. A atriz interpreta uma personagem de várias camadas, que enfrenta diversas situações críticas e vai se transformando a partir delas. É por causa da competência da atriz que três cenas tensas do filme, em particular, tornam-se inesquecíveis. 
Outros méritos de atuação merecem nota. Juliano Cazarré faz um delegado discreto, incisivo e que foge do estereótipo da novelas, dispensando por exemplo, aquele ar de gravidade artificial. Thalita Carauta, uma das peças-chave do enredo, rouba a cena como a moça suburbana que fala um dialeto característico do subúrbio, só que de outra natureza. O filme se mostra surpreendente e recompensador no final do terceiro ato, o que acaba por ofuscar, em parte, a falta de ritmo anterior. 
A história é livremente inspirada num fato real. O filme foi escrito e dirigido por Fernando Coimbra, paulista de 37 anos, diretor de curtas, sendo ‘’O Lobo…’’ seu primeiro longa de ficção. A fotografia tecnicamente precisa e inventiva é assinada por Lula Carvalho. 
O lobo atrás da porta faz parte da mostra competitiva da longa-metragens do VI Janela Internacional de Cinema do Recife

Deixe um comentário